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Voltar para a listagem18/01/2022
Para muitos pacientes, a doença causada pelo novo coronavírus é desgastante e perigosa. Mas você sabia que, mesmo depois de curada a infecção, podem surgir ou persistir sintomas como lapsos na memória?
A ciência ainda não sabe muito sobre os mecanismos que levam às sequelas pós-covid. Porém, com tanta gente que passou pela doença no mundo, é possível ter uma boa ideia sobre quais os principais problemas que podem ocorrer.
Para falar sobre os sintomas cognitivos da pós-covid, conversamos com o neurologista do Hospital Mãe de Deus, Dr. Henrique Mohr.
A seguir, ele nos ajuda a esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto. Boa leitura!
Sim. De acordo com o Dr. Henrique Mohr, as queixas cognitivas — como desatenção e prejuízo na memória recente — são comuns no pós-covid.
"O número conhecido é que mais ou menos um quarto dos pacientes tem algum sintoma neuropsiquiátrico", comenta o neurologista. "E esses sintomas podem vir da covid leve ou da grave."
Muitos desses sintomas, segundo o médico, são transitórios, durando algumas semanas no pós-covid, mas também há casos de pacientes que persistem com algum sintoma cognitivo por um período mais prolongado, além de um ano após a infecção.
"A gente não sabe qual vai ser o futuro disso, se tende a melhorar, ficar estável ou eventualmente até se agravar. É incerta a evolução dessa queixa", declara o Dr. Mohr.
Na experiência do neurologista do Mãe de Deus, em geral os pacientes se queixam de lapsos, pequenas desatenções do dia a dia, como não conseguir reter uma informação, não lembrar onde deixou algum objeto ou o que acabou de falar.
"Na extrema maioria dos pacientes são queixas leves, perceptíveis, mas sem maior impacto nas atividades do dia a dia. Porém, existem casos mais graves, pacientes que têm o que se denominou brain fog, cuja tradução é uma neblina cerebral", conta.
Nesses casos, os pacientes perdem a capacidade de realizar ações que faziam com naturalidade antes. "Por exemplo, um enfermeiro que teve um quadro de covid não soube mais manusear as medicações e realizar as atividades do dia a dia", acrescenta.
Além do exemplo presenciado pelo Dr. Mohr, há relatos em revistas estrangeiras de pessoas que desaprenderam a fazer seu trabalho e ficaram com uma lacuna na memória em relação ao período pós-covid.
A parte mais grave — esse declínio cognitivo profundo com incapacidade para o trabalho —, no entanto, tende a ser transitória.
Além dos lapsos na memória e desatenção, a cefaleia (dor de cabeça) é uma queixa muito comum entre os pacientes pós-covid. Sem contar as alterações no olfato e paladar, que são frequentes e podem persistir depois de curada a infecção.
Segundo o Dr. Henrique Mohr, também pode haver complicações neurológicas graves no pós-covid, embora estas sejam menos comuns, como AVCs (tanto hemorrágicos quanto isquémicos), encefalite e mielite.
"São reações imunológicas que ocorrem com a presença do vírus no organismo. O corpo acaba gerando uma resposta inflamatória que ataca o próprio sistema nervoso da pessoa", detalha o médico.
Ele ainda cita a possibilidade de ocorrerem distúrbios motores, como a mioclonia, caracterizada por abalos musculares involuntários.
No caso dos pacientes com alguma queixa em relação à memória, é importante que eles passem por uma avaliação padrão de memória.
Isso permite a identificação precisa do sintoma e, a partir daí, podem ser feitos outros testes cognitivos e exames complementares, para que possa selar o diagnóstico de fato.
Tudo isso pode ser encaminhado a partir de uma consulta com um médico neurologista.
"Apesar da covid-19 ser sempre uma causa em potencial, existem várias outras doenças que resultam em sintomas cognitivos, muitas delas inclusive tratáveis", pontua o Dr. Henrique Mohr.
O médico afirma que não há medicações que possam tratar o que foi ocasionado pela infecção. O tratamento da covid começa com a prevenção, com o uso correto de máscaras, distanciamento dentro do possível e vacinação.
Depois, com o tratamento das complicações, caso tenha havido descompensação ou internação hospitalar. "Mas ainda não temos nenhuma medicação que possa reverter os efeitos neurológicos", diz o neurologista.
O tratamento pode envolver, caso seja necessário, práticas de reabilitação, com acompanhamento de neurologista, psiquiatra, terapia ocupacional e/ou atividades cognitivas.
Com tantos riscos e incertezas, portanto, o melhor que todos temos a fazer é continuar apostando forte na prevenção.
Fonte: Blog Bem Panvel